PAGINAS VAZIAS

PAGINAS VAZIAS

A pagina é branca

E eu nada escrevi

A pagina é um rascunho

E eu apenas rabisquei a intenção

E cada gesto meu define o que vem depois

Então decidi

Parar de viver

Porque entendi que o agora é o fruto

Da semente que um dia caiu por acaso

Então parei de escrever

E passei a amassar os papéis e jogar no vaso

Entulhei tantas folhas que juntaram soltas

E se transformaram num alto e grande rascunho

Mas não tinha jeito, nada mais era desfeito

Porque as paginas estavam sujas e feias

Ah...Se fossem belas ainda as minhas paginas brancas

Chorei menina em cima dos meus papéis

E pensei quieta:

“ pra que acordar se nem me vem inspiração ?

Agarrei meu vaso

Enganei o acaso

Limpei as folhas

Amarelei todas elas

E descobri

Que se escrevi tanto
é porque vivi...

Como Clarice, se não escrevo é porque morri....

DESPEDIDA DO AMOR ETERNO

Não penses que é assim,
Nem tudo se acabou porque seguiste teu rumo
E eu em outras paragens permaneço
O que não sabes é que em mim mora a louca
A desvairada, descarada e sem pudor


O que não sabes é de minhas artimanhas
De enganar e roubar eu bem sei
E tudo faço arquitetando planos
Cultivando desenganos
Com muito ardor


Pois então achas que partindo em paz repousas enfim
Então te informo que nada - nada sabes a respeito de mim
Pois se não posso te ter, sou ladra
Roubo-te um beijo
E levo comigo tudo
Tudo o que vivi contigo


Cada sorriso, cada palavra trocada ao vento
Cada dia, claridade...momento
Cada toque, cada sussurro...sentimento
Um olhar, mãos dadas...cada movimento


Tudo isso é meu e não podes retirar de mim
Pois todo segundo que passei ao teu lado
É chama incontida de amor sem fim


E tanta chama é que vai consumir meu calor
Pois sei que clamo pra aplacar tamanha dor
A dor de tua distância amado meu
E mesmo que vás, cada instante vivido
Será semente de devaneios doces


E eu aqui permaneço
Aquela que roubou te um beijo
e que vivo incessante a consumir
as lembranças tuas em meu ventre vermelho
aquele que quiseras tanto possuir


E mesmo que te aches enfim
Solto, leve, sorridente e livre de mim
Pois sou passado
Mal sabes das lembranças mornas que cultivei
A teu lado


Se bem notares acima de teus passos
Ali estou eu, como um fantasma que paira sobre ti
De teu presente, sou teu passado
De tuas asas, sou o teu alado


Se não posso te ter, te deixo então
Se tenho que te deixar é assim que te deixo
Deixo-te para sempre dentro de mim...

SOZINHA

SOZINHA

Pintei minhas paredes

Joguei quadros fora

Quebrei armários velhos

Rasguei papéis antigos

Tudo pra tirar você de mim

Mudei os móveis de lugar

Troquei horários, caminhos, vocabulários

Mudei cabelos, roupas, trapos soltos

Parei de me arrastar e passei a caminhar

Tudo pra tirar você de mim

Parei de te olhar como um homem

Parei de te olhar como um verme

Parei de sentir vontade de você

Tudo pra tirar você de mim

Mas mesmo que eu lixe as paredes

Mesmo que eu troque as fechaduras

Portas, comportas

Algo no fundo do quarto

Ainda vai conter o teu nome

É quando eu desvio o caminho

E vou pro canto da sala arrumar as cortinas

É quando eu vejo a paisagem de outra forma

Mas é tudo ilusão pura

Porque já tirei você de mim

E sobrou pouco pra contar depois

Porque já não tenho mais tantos móveis

Nem armários, nem cantinhos, nem salários

Moro numa casa vazia,

Porque já tirei você de mim

Sorrio mais, me encanta tudo

E viro cambalhotas no meio da sala

Afinal, só eu mesma vivo ali !

E a casa outrora sombria

Transformou-se em cabana de palha

Onde o sol bate sorridente

E as frestas são feitas de sentimentos puros,

momentos e ternura, alegria e novos sorrisos

Desde que tirei você de mim

ILUSÃO

Eu sonho contigo
com o que acho que tu és
com o que encontro em ti
e que já está dentro de mim
mas...qual seria o teu mérito 
se “tal amor” já existia dentro de mim ?

Irônica.. bato palmas !
Dou parabéns ao acaso que te colocou a minha porta
Dou parabéns às minhas mãos que te disseram : “Muito Prazer!”
Dou parabéns ao meu olhar que se dirigiu a ti

Mesmo que nunca existisses
Eu encontraria o amor por ai
Pois “tal amor” já havia latente aqui
Quieto e pulsante dentro de mim

Não penses ser o rei de minha vida e de meus pensamentos
No fundo, a realidade é que
És mero reflexo de meu sentir
O tamanho que tens sou eu que te dou
Te faço existir, te controlo, te recrio

És papel amassado em folha de seda
Rio, te invento, gargalho...
Louca incontida
Depois ...choro
Meu amor se foi sem avisar
Voava leve numa folha amassada
Ao vento que passava pela janela da sala de estar